Tuesday, May 31, 2005

cara tv

"A Unicef está a fazer uma campanha de prevenção do vírus hiv na Swazilândia. Para tal, faz incentivos ao uso do preservativo e á monogamia"

estarei eu, como sempre, enlouquecida, cegada pelo turbilhão de ideais da liberdade, e como de costume, por demais propensa a controvérsias...?

não vos quero maçar mais nem contradizer-vos, nem ser exagerada ou inconsequente.

mas a tv, nessas raras vezes que conversa comigo, diz-me coisas estranhas e eu demoro a compreender as suas associações lógicas. custa-me a entender os reboscados raciocínios que ela empreende com tanta perícia. e tenho tanta dificuldade em assimilar as ideias iluminadas (?) que ela tenta insistentemente incutir na minha mente!

hoje, come di solito, cá estava ela, imóvel e angulosa, insignificante. tentou puxar assunto, trocar ideias. mas eu ignorei-a (faço-o quase sempre...) ela insistiu, e não se calava. e lá despejava as suas opiniões, e dava e vendia nótícias boas e notícias más (ignoro o critério com que ela as classificava...) e foi então que me gritou aos ouvidos aquela frase que cuidadosamente transcrevi no início deste texto (texto?!...)

e eu, as always, fiquei sem perceber o que ela tão veementemente me queria comunicar. não consegui atingir o conceito de "incentivar a monogamia", perdoem-me esta minha limitação. a cultura de um povo é algo que respeito e admiro de uma maneira tão suprema, que me impossibilita de conceber um incentivo a contrariá-la.

não estou descurando, obviamente, o facto de existirem em muitas culturas algumas práticas e hábitos com os quais discordo e considero serem acima de tudo um produto do deflagrar desta imperfeição tão flagrante que nos caracteriza, e que por vezes, infelizmente, encontra caminhos condenáveis e errantes.

no entanto, cara tv e meus caros telespectadores, não me parece que seja este o caso. é concerteza importante alertar quem não sabe para os perigos destas modernas doenças mortais, que a todos tocam e fazem-nos sentir revoltados com os desígnios da natureza. e ajudar é um acto de extrema nobreza, que sempre apoiei e sempre pus em prática. mas a mim (e se calhar só a mim), parece-me que fazer incentivos a uniformizar as culturas - tão diversas - que dão alma a este mundo, neste caso não se justifica.

porque o preservativo é uma medida sensata... mas uma mudança cultural nunca chegará sequer a ser uma medida, e só contribuirá para uma extrapolação errada de identidades, deturpadora e, com bastante certeza, sem resultados.

até á próxima, tv. ainda espero que um dia nos entendamos, mas duvido muito... não somos feitas da mesma massa


para ouvir : John Butler Trio - Media
quote of the day: "a tv é a lanterna dos estúpidos"

Monday, May 30, 2005

as folhas do meu caderno

abro o meu caderno. olho para as folhas impessoais á procura de algum significado, e vejo tanta coisa lá escrita... mas sinto-me perdida, porque nenhuma frase faz sentido, nenhum cálculo tem nexo! as folhas estão cheias, sei bem, mas cheias de letras que não me inspiram e de numeros que em nada me completam - para mim assumem a forma de uma mancha parda onde jazem todas as coisas sem cor deste estranho mundo.

as folhas do meu caderno não me são familiares, mas mesmo assim não despertam a minha curiosidade! olham-me elas também, com o mesmo olhar vazio com que eu as olho, e perguntam-me porque é que procuro nelas um significado - e, entredentes, murmuram que não têm nada para me dar. emudecida pela dureza da realidade, largo o meu lápis para não mais escrever nas folhas impessoais coisas em que não acredito.

Pego em tintas de mil cores e pinto nas folhas do meu caderno paisagens virgens e infinitas, e desenho pessoas nuas mas felizes. misturo e crio, esborrato e faço, respiro e invento. escrevo frases de liberdade e palavras de amor, poemas ilógicos e letras de canções surrealistas. e á medida que deixo as minhas mãos de artista fluir com a criação, noto que as tintas de mil cores não pegáram nas páginas impessoais do meu caderno...não vejo nenhum sinal dos meus desenhos e das minhas letras...

As follhas do meu caderno olham-me com escárnio. dizem-me, num tom de voz maquinal e massificado, que ali não há espaço para as minha invenções. sinto-me perdida, mais uma vez. e então vejo que as mil cores que pintei tinham -todas elas- convergido para a mancha parda, que tudo abrsorve, e que a tudo retira a vida. as minhas mil cores da espreança, da liberdade e da vida, tinham morrido nas folhas do meu caderno.

fecho o meu caderno. não preciso de tentar encontrar significados nas letras e nos números, nas frases e nos cálculos estampados naquelas folhas impessoais, que não me deixam ser eu mesma, nem criar nem descobrir. o meu significado, procurá-lo-ei em folhas muito diferentes...

mas primeiro preciso de um novo caderno.

Saturday, May 28, 2005

fotografia

a janela ao meu lado emoldura um carro, árvores e uma escola. gostava que te emoldurasse antes a ti, queria saber como estás hoje, meu amor. olho lá para fora e não te vejo, mas imagino-te. fico aqui sozinha, a magicar com a minha janela que é moldura. pergunto-me para que lado esvoaçam as ondas do teu cabelo hoje. tento adivinhar que brilho e que reflexos hoje darão cor aos teus olhos. imagino de que tom está a tua alma - se prateada, transparente, verde ou azul. lembro-me que mais logo talvez esteja cor de fogo. e o teu corpo? - que temperatura, que cheiro, que textura terá ele hoje... espreito mais além, através da minha moldura, mas não vejo mais que a fotografia de sempre.

queria tanto poder ir visitar-te hoje, ao entardecer, já que tu não passas por aqui, por esta janela ansiosa. mas o tempo tarda, e não me deixa ser livre (só por hoje!), e a janela chora, e emoldura-me a mim. sou a fotografia de uma amante que espera ou de uma amiga impaciente. quando despontar a aurora, nesse precioso amanhã que insiste em demorar, eu sairei desta janela e a janela não será moldura nunca mais.

amanhã, já desemoldurada, visitar-te-ei, á hora que me apetecer, e fico contigo até não conseguir ver nada, meu amor, até ser impossível continuar a deslizar nas ondas do teu cabelo. amanhã é o nosso dia, e nada nem ninguém me vai separar de ti, ó mar.


som : Morcheeba-The Sea

Friday, May 27, 2005

a minha insanidade

louca sou eu, porque não mando as meias para lavar sempre que tomo banho... é que elas nem cheiram mal ( e se cheirassem?) nem estão sujas, então para quê gastar energia, água e detergente - usar as mesmas meias durante uma semana é ecológico, mas eu não bato bem da cabeça...

sou completamente louca, digo palavrões!...mas eu só chamo as coisas pelos nomes, respeitando a natureza humana - antes isso que a merda da hipocrisia que reina nas frases das pessoas normais.

só alguém louco (como eu) é que tira macacos do nariz, dá arrotos e se peida com naturalidade... sim porque -quais humanos?- as pessoas não devem fazer essas coisas. só que eu pensava que falar sobre fazer xixi e cócó era igual a falar sobre o que jantei ontem... pelos vistos estava enganada, são a diferença entre ir para o céu ou para o inferno! e eu que pensava que eram só duas coisas simples e essenciais á vida.

eu sou louca- não acredito em deus...completamente tresloucada - não gosto da igreja católica!! é que a fé a mim não me tocou, sou uma marginal - não rezo nem quero rezar, a única força superior que respeito (esta sim, ajoelho-me aos seus pés) é a Mãe Natureza. deve ser por isso que digo palavrões - não tenho medo de ir para o inferno, para mim ele não existe !..coitadinha de mim, devo andar a bater mal...

louca? that's me! eu, que não gosto de sapatos de senhora e ando sempre com os mesmos ténis. sou louca porque não me visto como uma futura gestora (quem, eu?!!!) se deve vestir. esqueci-me de dizer que não sou futura coisa nenhuma, e que gosto de andar confortável. apesar disto tudo, adorava estudar design de moda...só posso ser louca.

sim, louca, porque detesto a palavra pátria! mas não é por mal, amigos patriotas: é só porque esse conceito é tacanho e limitativo, não tem direito a entrar no meu dicionário da liberdade. não tenho orgulho em ser portuguesa, vejam só! mas amo este planeta. Por favor não me insultem chmando-me patriota. chamem-me antes nómada ou cidadã do mundo... ou ainda melhor: louca.

chamam-me louca, e eu sou-o realmente, porque me dou melhor com as senhoras do bar da faculdade do que com muitos colegas da minha turma. mas é só porque me identifico mais com elas. acho-as pessoas mais bonitas. gosto da voz delas, é engraçada. gosto da presença delas, enche-me de alento. gosto de ser a única a conversar com elas- sinto-me especial... acudam-me, porque eu sou louca e nunca vou sair da cepa torta.


som do momento : Metamorfose ambulante de Raul Seixas

Thursday, May 26, 2005

Soul Factor

Porque é que a palavra soul é tão bonita?
se calhar por ser como uma estrada bifurcada (ou trifurcada) que nos dá espaço para as mais diversas abordagens e caminhos.

soul é bonito as opposed to aparência física. tenho esta obsessão da alma em deterimento do corpo - sem descurar a máxima mente sã em corpo são, que me inspira e em nada se opõe á minha visão (um apontamento para os mais desatentos...) - e a esta obsessão, chamo-lhe soul factor. não há nada mais intenso do que descobrir a alma de alguém. sem correr, bem devagar... saboreando cada cor, vendo cada textura. aprende-se tanto com as pessoas! cada um de nós tem em si uma manta de retalhos feita de bocadinhos de alguém. é esta combinação que nos faz tão diversos mas ao mesmo tempo tão semelhantes. sim, é por isso que a a palavra soul é bonita - porque soul são as pessoas, e as pessoas são bonitas.

soul é bonito na música...fazer som veículando o que a nossa alma dá é fazer música verdadeira, que flui com o que somos. logo aí ultrapassa qualquer regra de harmonia, métrica ou estilo.tocar um instrumento e sentir verdadeiramente todo o som que dele transborda, arrancar notas que sejam o reflexo da nossa alma, e não preocupações de ordem teorico-tecnica...isso sim, é soul! porque os nossos ouvidos também têm sentimentos, e o nosso coração também ouve. A técnica é para os técnicos, não para os artistas! soul é espontaneidade, e a boa música é espontânea.

soul é bonito no surf.o surf, quando não é feito com alma, não se devia chamar surf. devia ter nome de um desporto qualquer...o surf não é um desporto, para mim é como um valor.por ele pauto tanta coisa na vida - o soul surf ensina coisas ás pessoas. ensina a amar a alma do mundo, a natureza. ensina a saber esperar. ensina o que é a harmonia, a fusão, a sintonia com essas ever-changing massas de água chamadas ondas que povoam os sonhos dos soul surfers.ensina a estar em paz e a respeitar o próximo.ensina a ser presistente e buscar os sonhos.ensina a sermos nómadas, porque os sonhos são maiores do que uma praia, que um país.soul surf, na verdade, é um pleonasmo. o verdadeiro surf é sinónimo de soul.

Peace & Love

"quanto dura um corpo? quanto dura uma mente? qual deles dura mais tempo?" Sam the Kid

any given day

Som do dia : Finley Quaye feat. Beth Orton - Dice
Frase do dia : " Never doubt that a small group of thoughtful, commited citizens can change the world - In fact, it's the only thing that ever has" Margaret Meade
Poema do dia : Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida/ Meus olhos andam cegos de te ver!/ Não és sequer razão de meu viver,/Pois que tu és já toda a minha vida!/Não vejo nada assim enlouquecida.../ Passo no mundo, meu Amor, a ler/ No misterioso livro do teu ser/ A mesma história tantas vezes lida!/ Tudo no mundo é frágil, tudo passa.../ Quando me dizem isto, toda a graça/ Duma boca divina fala em mim!/ E, olhos postos em ti, vivo de rastros:/"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,/ Que tu és como Deus: princípio e fim!..." - Fanatismo, de Florbela Espanca
Ponto alto do dia : Fazer exercícios em folhas de papel aproveitadas das impressões falhadas de alunos errantes da faculdade, e sentir que estou a colmatar erros dos outros - reutilizar is the way!
Pensamento recorrente do dia: Hoje o meu corpo não esteve na água, apenas o meu corpo não esteve na água...
Excerto de um livro do dia : "E allora non parlavo di boa, di foreste primitive, di stelle. Mi abassavo al suo livello. Gli parlavo di bridge, di golf, di politica, di cravatte. E lui era tutto soddisfatto di avere incontrato un uomo tanto sensibile." - Il piccolo Principe, Antoine de Saint-Exupéry
Sabor do dia : amêndoa e cenoura
Sentimento do dia : amor de irmãos
Memória do dia : entardecer na piazza santa maria in trastevere

e o teu dia?

Memórias

Ostia é a praia de Roma, onde jà surfei com imenso orgulho e espirito de aventura. è bonita, melancólica até... tem pouca gente, o ambiente è algo mistico. o surf ali nao è massificado, è so para alguns. è cada vez mais raro estar num lugar onde esta arte de fusao com o mar seja verdadeiramente especial... e è tao gratificante surfar ondas quase inexploradas, onde só quem tem um genuino amor ao mar se esforça para surfà-las. Nao è facil ser surfista no mediterraneo, e quem o è tem um dom especial : o dom de saber esperar e o dom de acreditar que ''wherever there's a coastline...'' (para bom entendedor meia palavra basta)Fica aqui uma good vibe para todos os surfistas pelo mundo fora que acreditam e que mostram dia apos dia, que ''the stoke is a global feeling !''Uma vez uma pessoa que amo muito disse-me : ''tu respeitas o mar, e ele deixa-te andar às suas cavalitas'' - e esta frase ha-de acompanhar-me para sempre ! Obrigada, mar de Itàlia por todas as alegrias que me deste. Respeito-te tanto como aos grandes Oceanos.

Peace & Love

para ouvir : Aretha Franklin - Chain of fools