as folhas do meu caderno
abro o meu caderno. olho para as folhas impessoais á procura de algum significado, e vejo tanta coisa lá escrita... mas sinto-me perdida, porque nenhuma frase faz sentido, nenhum cálculo tem nexo! as folhas estão cheias, sei bem, mas cheias de letras que não me inspiram e de numeros que em nada me completam - para mim assumem a forma de uma mancha parda onde jazem todas as coisas sem cor deste estranho mundo.as folhas do meu caderno não me são familiares, mas mesmo assim não despertam a minha curiosidade! olham-me elas também, com o mesmo olhar vazio com que eu as olho, e perguntam-me porque é que procuro nelas um significado - e, entredentes, murmuram que não têm nada para me dar. emudecida pela dureza da realidade, largo o meu lápis para não mais escrever nas folhas impessoais coisas em que não acredito.
Pego em tintas de mil cores e pinto nas folhas do meu caderno paisagens virgens e infinitas, e desenho pessoas nuas mas felizes. misturo e crio, esborrato e faço, respiro e invento. escrevo frases de liberdade e palavras de amor, poemas ilógicos e letras de canções surrealistas. e á medida que deixo as minhas mãos de artista fluir com a criação, noto que as tintas de mil cores não pegáram nas páginas impessoais do meu caderno...não vejo nenhum sinal dos meus desenhos e das minhas letras...
As follhas do meu caderno olham-me com escárnio. dizem-me, num tom de voz maquinal e massificado, que ali não há espaço para as minha invenções. sinto-me perdida, mais uma vez. e então vejo que as mil cores que pintei tinham -todas elas- convergido para a mancha parda, que tudo abrsorve, e que a tudo retira a vida. as minhas mil cores da espreança, da liberdade e da vida, tinham morrido nas folhas do meu caderno.
fecho o meu caderno. não preciso de tentar encontrar significados nas letras e nos números, nas frases e nos cálculos estampados naquelas folhas impessoais, que não me deixam ser eu mesma, nem criar nem descobrir. o meu significado, procurá-lo-ei em folhas muito diferentes...
mas primeiro preciso de um novo caderno.
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