Thursday, September 29, 2005

asas cortadas

os meus segredos são caixas seladas
e eu escondi-os no fundo de um cofre
são duas verdades -- nada elaboradas
e só estão ocultas porque assim nnguém sofre

o primeiro segredo é coisa de infência
é meu e só meu, e da minha circunstância
chegará decerto o dia em que o hei-de revelar
mas não é hoje, nem a vós -- nem vos ia interessar

o segundo segredo, esse sim, é de tal pureza
que da vida, eu sinto -- é a unica certeza
e hoje chegou o dia, e todos vão saber...
que és tu quem eu amo, e amar-te-ei até morrer !

(e dizem que o amor é quando se constrói
e eu digo que não, aprendi que é quando dói
e se todos duvidarem, como eu um dia duvidei,
mostrar-lhes-ei os meus poemas, e então perguntarei:
se isto não é amor, então expliquem-me o que é,
e apaguem a minha dor, e retirem-me toda a fé !)

Tuesday, September 27, 2005

ironia do des(a)tino

...e ainda me rio ás gargalhadas,
e choro todas as madrugadas
quando me lembro que é mesmo verdade
que te conheci no dia da liberdade!

som: zeca afonso -- verdes sao os campos

Friday, September 16, 2005

pacifista

larga a minha mão, não mexas nas minhas asas!
eu não quero a tua ajuda, nem o apoio, nem as palavras.
deixa-me viver com calma, a paz é urgente em mim,
fora daqui com as regras, e os caprichos e as maldades,
que pra mim já chego eu, quanto mais aturar-te a ti !
já sei : eu tenho mil defeitos, e devia dar-te ouvidos
mas entende uma coisa : teorias não é comigo
eu gosto é de viver -- ir descobrindo, pensando, resolvendo,
que a minha viagem não traz bula de instruções, é só um improviso!
ah, não me entendes, tu jamais vais atingir
o conceito de liberdade, que é querer e então agir!
e ninguém nunca vai sofrer com as minhas decisões,
que eu transpiro amor, e sou-lhe fiel -- e logo livre!
pois então não me olhes, não me toques, não me fales
que enquanto não fizeres um esforço, e largares formalizações
vão haver gritos e berros ecoando por todo este mundo,
gritos meus de independência e os meus berros de paz!

... o amor é livre. (se tu ao menos soubesses...)


dedicado aos media, e aos anuncios, e aos políticos, e ás máquinas de lavagem cerebral.

som: nofx - linoleum

o meu engano

confundi-te com um sonho,
tu enganáste-me -- eu caí...
e deste buraco medonho
nem vejo o que passa aí

confundi-te com perfeição
acreditei em ti, qual amor eterno...!
...afinal és ilusão.
e hoje a vida, das estações é o inverno

...e jamais saberei nesta viagem,
se sou eu a cega ou és tu a miragem.

Saturday, September 10, 2005

vejo-te

teus olhos, mármore polido
cabelo de seda difusa
o braço de veludo, fino e comprido,
sorriso eterno, como já ninguém usa

tua mão -- argila suja, moldável
as costas modestas e curvas
o coração, ilusão inalcançável...
sou eu a olhar-te, minhas vistas já turvas.


som: echo - incubus

para quê...?

Preferia viver na ignorância
Que navegar nesta inconstância
Num barco que jamais parará,
e por mais voltas que dê, não te alcançará...
...e dizem-me ‘tudo tem uma razão’
mas é mesmo essa a minha questão:
...que raio na minha vivência,
ganhou em saber da tua existência?


(E o teu nome há-de ecoar eternamente, em todos os cantos da minha mente,
e há-de ocupar todos os espaços, e impedir milhões de laços,
trár-me-á hoje a cegueira que eu queria ter tido, naquele dia ‘pra não te ter conhecido)



som: coldfinger - para um poema

Thursday, September 08, 2005

etra

a minha arte é imperfeita,
reflexo da minha humanidade
ela não brilha nem deleita,
é mais pequena que a realidade

a minha arte é incompleta,
não lhe sei dar tudo de mim.
desenho e escrevo em linha recta
numa estrada que não tem fim

a minha arte é superficial,
como na verdade, eu mesma
quero chegar ao fulcro, ao central,
e demoro mais que uma lesma.

a minha arte não se chama sequer arte, não é digna de tal designação!
ela é só um caso aparte, um caso de revolta e de paixão!

(...e a artista, essa então, tem tanto de artista como de cão!)


som : At The Drive-in -- 300 MHz

Tuesday, September 06, 2005

puro malte

aaaaaaaaaaaaaaah que cabeça a minha!
que mede um milhão de quilómetros, e eu não bato bem da pinha
porque sinto-me tonta, e desperta, e tresloucada,
e se me pedirem informações eu acho que nem sei nada!
...nem as ruas nem as rotundas,
que as minhas infos são mais profundas
não sei de caras nem de bundas...!
agra sei só do que vai lá dentro
porque é no que importa que eu entro
e faço, e chego e aconteço
e compreendo mesmo quem eu não conheço
estou movida a solidaderiedade,
porque ninguem entende a minha identidade,
e então eu colmato a questão
dando a quem precisa, a minha mão!

Monday, September 05, 2005

caos latente

se tu existires, ensina-me a acreditar em ti, que hoje não acredito.
se tu existires, perdoa-me esta minha arrogância, e tudo o que tenha dito...
se tu existires, abre-me uma porta na consciencia, mostra-me paraíso, eternidade
se tu existires, diz-me o que eles significam, acaba com a minha ingenuidade.

mas

se tu existisses o teu abraço desconhecia triagens
se tu existisses a paz e o amor não eram miragens...
se tu existisses eras natureza, não igrejas e ostentação
se tu existisses estavas agora ao meu lado, e davas-me a tua mão.


para ouvir: ben harper -- the woman in you

Sunday, September 04, 2005

pés (de lés a lés)


não tenho fé,
mas um grande pé.
(para correr mundo em vez de rezar...)
não bebo café,
durmo como um bebé.
(é ser infantil em vez de dar o ar)

não sou como tu e tenho uma razão
que é ser ou parecer : eis a questão