ás vezes sou divindade
gosto de tomar banho. não por causa do cheiro do champô mentiroso que diz ser feito de frutas e flores quando é feito de químicos difíceis de nomear. nem por causa do gel de duche que me promete uma pele macia e saudável mas só serve para tirar a sujidade. o meu cabelo não precisa de frutas nem flores, porque ele já é natureza. e a minha pele já é mais macia que a de um golfinho, obrigada. sol, vento e água salgada chegam para tratar de mim.gosto de tomar banho, mas não porque saio da banheira a cheirar bem e com ar lavadinho. não é quando saio do banho que cheiro bem. cheiro bem quando transpiro e quando como, cheiro bem quando canto e quando escrevo. cheiro bem quando rio ou choro, e penso ou olho. e um ar lavadinho a mim não me convence, prefiro um ar real, seja ele lavado ou sujo. um ar pessoal, um ar de pessoa verdadeira...nada mais encantador.
gosto de tomar banho porque gosto da água. gosto de senti-la a cair sobre a minha cabeça e a deslizar pelos meus ombros e a fazer remoinhos no meu umbigo. gosto de senti-la em abundância ou só num fio, e de senti-la quente demais, tépida ou gelada. a textura dela é tão sublime que me faz sentir uma deusa, idolatrada por milhões de gotinhas- todas diferentes mas todas puras como o meu corpo que é perfeição.
o meu cabelo, que cá fora são raios de sol e espigas de trigo ondulantes, na banheira transforma-se num manto indivisível e infinito, com a textura da seda e o brilho do ouro. e as gotas de água, que me adoram porque sou deusa, entram no meu manto difusas e caóticas e saem dele em forma dum fio de água interminável, perfeito e uniforme.
a minha pele de pêssego e pétalas, quando participa no ritual do banho, torna-se num campo magnetico que para si tudo atrai, e transforma-se no leito de mil rios e em terra fértil e feliz da chuva. as gotas de água são peregrinos que percorrem a terra santa do meu corpo de deusa de marfim, e fazem fila e juntam-se em grupos, para visitarem cada recanto da minha sagrada natureza, para me prestarem culto e sentirem a minha mística.
gosto de tomar banho porque sou a musa inspiradora desse elemento completo que é a água, porque sou divindade idolatrada, porque me sinto perfeita e sou-o mesmo, durante aqueles momentos em que estou na banheira.
saio cá para fora e não mais sou deusa... sou muito mais que isso, sou natureza.
1 Comments:
WOW estavas inspirada... vá lá, animou-me! estes artigos de direito comercial...bah :)
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